terça-feira, 16 de junho de 2009

Poema: A LOUCA DO RIO

Este Poema é o que foi lido pelo Dr. Manoel (Promotor de Justiça) no Troféu CIMA 2009.


Sô doida não, sô não, sô não...
Quizera eu ser uma montanha, uma pedra bruta ou até mesmo um grão de areia para
não ter alma, sentimentos, coração.

Sô louca não, sô não, sô não...
Sabem porque todos me chamam de louca?
É que ouço a voz do vento, converso com os animais e falo com as águas.

Ainda ontem, ainda ontem, participei da reunião das águas.
Estavam presentes o Rio Amazonas, Rio São Francisco, Rio das Velhas, Rio Paracatu,
Rio da Prata e Rio Paranaíba.

Trêmulo e ofegante Rio Paranaíba veio até a mim chorou copiosamente nos meus
ombros e contou-me sua história.

Ele disse-me assim:
Minha história é como outra qualquer.
Já fui rico e poderoso, mas devido à ambição humana estou à beira da morte.

Nasci no município de Rio Paranaíba, aqui, bem pertinho.
Devido a minha idade avançada, naquela época só me batizaram não me registraram.

Brotei humilde e pequenino, minúsculas gotas d’água deslizavam por sobre as campinas.
Fui unindo a novos companheiros e quando percebi era grande imponente e audacioso!
Ao meu redor frondosas árvores e que belas árvores! Deliciava-me com suas sombras e ar puro.
O jequitibá que nada mais era que um gigante, parecia erguer os braços aos céus para agradecer minha existência.
O ipê amarelo florido cobria-me de ouro.
As árvores menores quedavam-se, faziam-me continência.

Vivi belos momentos!

Todas as manhãs era acordado por uma orquestra regida pelos maestros sabiás, canários e azulões.
Até o juriti, com toda sua humildade, vinha junto aos outros pássaros me saudar!

Um bando de borboletas multicolores dançavam um belíssimo balé aquático só para verem suas silhuetas refletidas nas minhas límpidas águas.

A onça pintada, temida por todos, também rendia-me homenagem vindo banhar-se em minhas águas.
Os peixes, das mais variadas espécies, davam belos saltos nadando em diversas modalidades só para que eu os visse.

Você já teve este privilégio?

Pois é...eu tive isto e muito mais!
Até que um bicho desalmado chamado homem veio para acabar comigo.
Lutei, tentei mas estou perdendo a força.

Fizeram queimadas, derrubaram árvores, mataram quase todos os peixes que eram meus amigos inseparáveis, envenenaram minhas águas com lixo, esgoto e agrotóxico.

Rasgaram minhas entranhas em busca de ouro, diamante e pedras preciosas, desviaram o curso de minhas águas, não me deixam seguir o meu caminho.
Estou morrendo. Salve-me!

Muitos já vieram me visitar, até tentaram me ajuda, mas só eu, só eu sei o diagnóstico da minha doença. Chama-se irresponsabilidade, falta de consciência e de humanidade.

Homem que mal eu lhe fiz?
Deixe-me viver, covarde! Água é fonte de vida.

Porém lembre-se: com a minha morte e de meus companheiros, levarei todos vocês comigo.
Esta será a nossa vingança!

Juro, juro por Deus, o Rio Paranaíba chorou e me pediu:
Salve as águas do planeta!
Salve as águas do Brasil!


Autora: Maria Lúcia Silva Cardoso

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