A carne brasileira é um dos principais vetores do desmatamento da Amazônia, segundo um estudo de 2008 que dimensiona a rede complexa que une nossos hábitos do dia a dia à destruição da maior área contínua de floresta tropical do mundo. Intitulado "Conexões sustentáveis São Paulo - Amazônia: Quem se beneficia com a destruição da Amazônia?", o trabalho, elaborado por jornalistas das ONGs Repórter Brasil e Papel Social Comunicação, verifica os impactos ambientais e sociais causados pelo avanço da agropecuária, do extrativismo, das plantações de soja e até dos financiamentos públicos e privados sobre a floresta.
A pesquisa foi divulgada durante o seminário "Conexões sustentáveis: São Paulo - Amazônia", uma iniciativa do Fórum Amazônia Sustentável e do Movimento Nossa São Paulo. O evento reuniu dezenas de lideranças locais e nacionais para debater as relações de interdependência entre São Paulo e a Amazônia. A escolha da cidade como fio condutor da pesquisa se deu porque é ela o maior centro consumidor e distribuidor de produtos da Amazônia - e porque até o regime de chuvas da cidade tem ligação com a preservação da floresta. "A Amazônia tem papel fundamental na concentração de nuvens de chuva em São Paulo. A chuva começa a se formar no Atlântico, se adensa sobre a floresta tropical e, ao esbarrar nos Andes, retorna e cai em São Paulo", afirma Adriana Ramos, do Instituto Socioambiental (ISA).
Para pôr um freio no ritmo de destruição, o consumidor não precisa abrir mão de comer carne, comprar móveis ou usar óleo de soja. Basta riscar da lista de compras aquelas marcas que insistem em violar princípios éticos e de responsabilidade. Nesse sentido, é útil acompanhar o levantamento que o relatório faz de cada setor produtivo na Amazônia, a começar pela pecuária. O Brasil é o maior exportador mundial de carne. É um mercado que não para de crescer - e, para atendê-lo, cresce também o número de rebanhos: de 2000 para cá, o número de cabeças de gado foi de 170 milhões para 206 milhões no país - 74 milhões delas estão na Amazônia, onde há mais boi do que gente. O grande problema desse crescimento é que ele se tornou o principal vetor para a derrubada da matas. A estimativa é de que 78% do desmatamento na Amazônia tenha sido motivado pela pecuária
Além de combater as diversas irregularidades encontradas nessas áreas, é fundamental deter a expansão dessas pastagens. Não se trata de impedir o crescimento do setor, mas aumentar a produtividade das áreas já desmatadas: os especialistas dizem que seria possível criar ao menos três vezes mais gado nessas terras com o uso de tecnologias simples. Por que, então, a derrubada continua? Porque, em curto prazo, é mais barato invadir uma nova área florestal e transformá-la em pasto do que investir na produtividade das áreas já usadas. Em longo prazo, no entanto, é o que se sabe: as conseqüências dessa escolha serão desastrosas.
O ministro aponta os desafios a serem enfrentados na região: "Queremos desmatamento ilegal zero e isso não se consegue apenas com Ibama e Polícia Federal. Você fecha uma serraria ilegal em uma hora, mas não substitui 50 empregos em uma hora. Tem que haver um novo modelo de sustentabilidade". Apesar do tamanho do problema, ele se diz otimista com o futuro da Amazônia, citando o lançamento de 40 planos de manejos para reservas extrativistas em novembro, entre outras medidas que devem se beneficiar do recém-lançado Fundo Amazônia. Se bem usados, os recursos talvez possam frear a devastação que consome a floresta. E evitar que o churrasco de cada dia não cause indigestão em nossas consciências.
Fonte: Yahoo Notícias
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